Drama como método de ensino




Referências
bibliográficas


CABRAL, Beatriz. Drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec, 2006.

Breve resumo
A autora nos apresenta o Drama como método ensino expondo a sua possibilidade de uso tanto como eixo curricular quanto como ferramenta de ensino. Traz sua conceituação, explica e exemplifica seus principais conceitos e expõe experiências de utilização do método. O Drama propõe um processo coletivo de construção de uma narrativa que incentiva os participantes a conceberem cenas a partir de um pré-texto.

Transcrições de citações mais importantes

“O Drama, uma forma essencial de comportamento em todas as culturas, permite explorar questões e problemas centrais à condição humana, e oferece ao indivíduo a oportunidade de definir e clarificar sua própria cultura. É uma atividade criativa em grupo, na qual os participantes se comportam como se estivessem em outra situação ou lugar, sendo eles próprios ou outras pessoas.” (p.11, l.1, grifo da autora)

“É comum o uso de convenções e técnicas teatrais no ensino de primeiro e segundo graus, usualmente como elementos facilitadores da aquisição e fixação de conhecimentos. Entretanto, seu uso em si, distanciado de um contexto dramático, não vai além de possibilitar uma estratégia dinâmica de conhecimentos. O potencial estético do teatro na educação, de conhecer e sentir (envolvimento emocional) perde-se ao se separar as técnicas teatrais do contexto dramático. (p.11, l.20, grifo da autora)

“O drama como método de ensino, eixo curricular e/ou tema gerador constitui-se atualmente numa subárea do fazer teatral e está baseado num processo contínuo de exploração de formas e conteúdos relacionados com um determinado foco de investigação (selecionado pelo professor ou negociado entre professor e aluno). Como processo, o drama articula uma série de episódios, os quais são construídos e definidos com base em convenções teatrais criadas para possibilitar seu sequenciamento e aprofundamento.” (p.12, l.4)

“Algumas características básicas são associadas ao drama como atividade de ensino: contexto e circunstâncias de ficção, que tenham alguma ressonância com o contexto real ou com interesses específicos dos participantes; o processo em desenvolvimento através de episódios, um pré-texto que delimite e potencialize a construção da narrativa teatral em grupo; e a mediação de um professor-personagem, que permite focalizar a situação sob perspectivas e obstáculos diversos. entre as estratégias que articulam essas características, algumas são fundamentais: as convenções teatrais que identificam formas distintas de ação dramática, a quantidade e a qualidade do material oferecido aos participantes, a delimitação e ambientação cênica.” (p.12, l. 12, grifo da autora)

“O contexto da ficção permite focalizar ou desafiar aquilo que é normalmente aceito sem questionamentos, tudo o que devido à rotina é assumido sem maiores reflexões. Ao mesmo tempo facilita a abordagem de temas ou situações que possam abalar a suscetibilidade dos participantes, possibilitando a experiência de respostas ou atitudes reais como se estas fizessem parte do universo imaginário.” (p.12, l.29, grifo da autora)

“Entretanto, para que o contexto estabelecido para uma determinada experiência permita este cruzamento do real com o imaginário, e para que as crianças consigam interagir como participantes destas duas realidades simultaneamente (a do contexto real e a do contexto imaginário), é necessário que a situação ou circunstâncias exploradas sejam convincentes, tanto no tratamento do tema/assunto, quanto na ambientação e papéis selecionados.
Contexto e circunstâncias são convincentes, primeiramente pela sua coerência interna, e esta em grande parte dependerá do acesso a informações e material de pesquisa disponível ao grupo. Falta de coerência decorre em grande parte da ausência de informações sobre o assunto, o que acarreta improvisações desencontradas e/ou simplistas, sem objetivo relacionado com o contexto ou fatos investigados.
Em segundo lugar, a situação dramática pode tornar-se convincente pela interação entre o contexto da ficção, o contexto social e o contexto da ambientação cênica. As possíveis analogias ou aproximações entre esses três contextos serão a medida do engajamento emocional dos participantes com o desenvolvimento do processo dramático.” (p. 13, l. 4)

“O pré-texto é o roteiro, história ou texto que fornecerá o ponto de partida para iniciar o processo dramático, e que irá funcionar como pano de fundo para orientar a seleção e identificação das atividades e situações exploradas cenicamente.” (p.15, l.15, grifo da autora)

“O pré-texto é, assim, não apenas um estímulo; sua função é bem mais ampla. Enquanto o estímulo sugere a idéia ou a ação inicial, o pré-texto indica não apenas o que existe anteriormente ao texto (contexto e circunstâncias anteriores), mas também subsidia a investigação posterior, uma vez que introduz elementos para identificar a natureza e os limites do contexto dramático e do papel dos participantes.” (p.16, l.17, grifo meu)

“A constatação fundamental aqui é que as dimensões artística e educacional alimentam uma à outra – o desempenho artístico será tanto melhor quanto maior for o conhecimento adquirido sobre os conteúdos e as formas subjacentes ao processo dramático; o valor educacional da experiência na escola será tanto maior quanto melhor for o resultado artístico alcançado.” (p.17, l. 20)

“Caracterizado também como “um processo de investigação”, o impacto que o drama terá sobre o grupo vai corresponder ao material usado para envolver os participantes com o processo: o pré-texto, e o material introduzido de forma gradual pelo professor, tal como pistas, documentos, fotografias, objetos, etc. Tanto o pré-texto quanto o material de manutenção do processo permanecem estreitamente vinculados ao papel do professor, como personagem ou não.”. (p.23, l.17)

“Ambientação cênica e teatralidade referem-se à possibilidade de levar os participantes a participar de uma realidade virtual; de se envolver na fantasia despertada pelo contexto da ficção intensificado pela participação ativa num evento teatral. A experiência de ser parte de uma realidade simulada já é prazerosa em si, independentemente de seu conteúdo (...)”. (p.30, l.26)

“A construção do conhecimento em grupo, mediante a concomitante aquisição da linguagem, ambos decorrentes das situações criadas e mediadas pelo professor, fica evidente a cada etapa do processo. Neste, o sucesso ou fracasso do drama como método de ensino ou de aprendizagem reflete a habilidade do professor para coordenar as interações dos alunos em diferentes níveis a fim de equilibrar fazer e apreciar e de introduzir situações, informações e/ou desafios na hora certa de acordo com os diferentes papéis e ações.” (p.31, l.20)

“A singularidade do drama como processo é que é possível considera-lo tanto como método de ensino, permitindo abordar e desenvolver qualquer tema ou situação dentro ou fora do currículo; quanto como eixo curricular, podendo ser caracterizado como uma atividade independente das demais disciplinas, mas capaz de gerar interesse ou pontos de ligação com qualquer outra das áreas curriculares.” (p.32, l.4, grifo da autora)

“(...) o aluno ao investigar as respostas o fará de acordo com suas necessidades e interesse, caracterizando-se assim como produtor dos conhecimentos adquiridos em vez de mero reprodutor do que lhe é passado pelo professor.” (p.34, l.1)

“Um recurso pedagógico eficaz para envolver os participantes com o contexto dramático e, ao mesmo tempo, estimular investigações paralelas e independentes nas demais áreas curriculares é o pacote de estímulo composto.” (p.36, l.11, grifo da autora)

‘O estímulo composto reúne um conjunto de artefatos – objetos, fotografias, cartas e documentos, por exemplo, em uma embalagem apropriada. A história que se desenvolve a partir dele ganha significância através do cruzamento de seu conteúdo – o relacionamento entre os artefatos nele contidos – e como os detalhes de cada um sugerem ações e motivações humanas.” (p.36, l.14)

“A teoria do estímulo composto foi desenvolvida por John Somers (1994), e parte do princípio de que o impacto do drama está baseado na possibilidade de trabalhar em dois níveis que estão interconectados e afetam um ao outro – o do contexto social dos participantes e o do contexto simbólico promovido pela linguagem do drama. Por exemplo, uma ferramenta pode sugerir um tipo de trabalho e o trabalhador que o executa; uma carta indica o motivo pelo qual foi escrita e o relacionamento entre o remetente e o destinatário.” (p.36, l.20)

“Os artefatos contidos no pacote de estímulo (o qual pode ser uma valise, um envelope grande, uma caixa, uma trouxa, etc.) funcionam como uma alavanca para iniciar e impulsionar o processo dramático, e vão tornando-se menos importantes à medida que a imaginação do grupo se fortalece. No decorrer do processo dramático poderão funcionar como uma referência contínua aos fatos que lhe deram origem.” (p.37, l.3)

“A cada processo desenvolvido sobre o mesmo tópico ou texto dramático, o professor poderá optar por ampliar o número de trabalhos relacionados com o contexto (construção de mapas ou ambientações, murais, imagens congeladas, fotos animadas, esculturas, reportagens, etc.); com a identificação de funções ou papéis (berlinda, entrevistas, um dia na vida..., problema oculto, máscaras, etc.), ou com o desenvolvimento da narrativa dramática, enfrentamento de tensões e solução de conflitos (jogos de status, fórum, analogias, rituais, momento da verdade, etc.). Todas essas atividades, presentes em metodologias distintas como os Jogos Teatrais, de Viola Spolin, e o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, sob a forma de jogos ou improvisações, fazem parte também do Drama. O que as identifica aqui é a fundamental importância que adquire sua coerência interna com o pré-texto – as intenções e motivações que deram origem ao processo do drama, e a construção de uma narrativa orquestrada pelo professor dramaturgista(...).” (p.43, l.9, grifo da autora)

“Em ambas a situações, leitura e construção de imagens, a intervenção do professor e monitores está centrada naquele espaço que Vigotski convencionou chamar “zona do desenvolvimento proximal”, caracterizada pela distância entre a capacidade individual da criança e sua capacidade de intervir com ajuda ou colaboração de outros mais capazes.
Na prática isso significa que o professor não vai definir os papéis ou ações dos participantes; sua função será “ler” as atitudes e ações dos participantes e fazer perguntas que os leve a pensar adiante.” (p.51, l.23)

“Práticas pós-modernas também estão refletidas no drama: fragmentação e redistribuição de papéis, abordagem não linear e descontínua, retomada de temas e textos clássicos, diluição da distinção entre atores e espectadores, mudanças de perspectiva – investigação do tema de pontos de vista distintos.” (p.115, l.4)

“O material introduzido no correr destes processos dependeu do questionamento e interesse do grupo e das tarefas estabelecidas pelo professor em função das necessidades cênicas e de aprendizagem.” (p.117, l.17)

“O drama, neste sentido, é um método de ensino cujos aspectos estruturais e estratégias garantem ao professor o exercício de ouvir o aluno e abrir oportunidades para que ele investigue as situações dramáticas a partir de seu capital cultural (...). O professor propõe as tarefas que irão definir o próximo episódio do processo dramático com base no material que veio à tona do episódio anterior. Ele pode, e deve, desafiar as posturas assumidas pelo aluno, mas fará isso ao criar problemas para serem solucionados por meio de diálogos ou ações físicas.” (p.118, l.30, grifo da autora)

Comentário pessoal

Drama = como se + processo contínuo + investigação.
O professor é de fundamental importância no processo, não para tomar decisões, mas para sutilmente conduzir o processo para o resultado esperado através da introdução de material.
O Drama imerge os alunos numa realidade imaginada fazendo-os viver aquilo que está sendo criado concomitantemente com o processo de criação.
A característica investigativa do processo é altamente eficaz para manter o interesse e estimular a pesquisa acerca de temas desejados. Por isso, o drama se configura como excelente ferramenta para trabalhos inter e transdisciplinares.
O Drama como método já traz em si o cerne da avaliação formativa (ou processual). A cada encontro percebe-se o estágio em que os alunos se encontram em relação ao conhecimento acerca dos temas pretendidos e verifica-se formas de introduzir novos conhecimentos, estimular o aprofundamento ou fortalecer pontos que estão insuficientemente trabalhados.

Utilização de materialidades no processo criativo

Cartas, documentos, fotos, textos, objetos, professor-personagem, cenas, pacote de estímulo composto, espaço.