Referências
bibliográficas
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SALLES, Cecília Almeida. Redes da Criação: Construção da obra de
arte. Vinhedo: Horizonte, 2006.
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Breve resumo
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A obra dá continuidade a proposta iniciada no
livro “Gesto Inacabado”, que busca compreender os processos de construção da
obra de arte através dos documentos deixados pelos artistas durante o
processo de criação relacionando-os com a obra entregue ao público.
Para Sales, a obra nunca esta realmente
acabada. É um eterno processo, mesmo depois de entregue ao público, e seu
processo criativo é influenciado por uma série de fatores externos e
internos, que agem em rede.
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Transcrições de citações mais importantes
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“Pretendemos, com as reflexões que esses
documentos proporcionam, oferecer uma outra maneira de se aproximar da arte,
que incorpora seu movimento construtivo.” (p.
“Cada versão contém, potencialmente, um objeto
acabado e o objeto considerado final representa, de forma potencial, também,
apenas um dos momentos do processo.” (p.
“Se o pensamento é relacional, há sempre
signos prévios e futuros. Esta abordagem do movimento criador, como uma
complexa rede de inferências, reforça a contraposição à visão da criação como
uma inexplicável revelação sem história, ou seja, uma descoberta sem passado,
só com o futuro glorioso que a obra materializa.” (p.
“Uma decisão do artista tomada em determinado
momento tem relação com outras anteriores e posteriores. Do mesmo modo, a
obra vai se desenvolvendo por meio de uma série de associações ou
estabelecimento de relações. A “anotação no guradanapo do bar”, muitas vezes,
não é nada mais que a tentativa de não deixar uma associação se perder.” (p.
“A continuidade nos leva ainda a observar que nunca se sabe
com precisão onde o processo se inicia e finda. É sempre vã a tentativa de
determinar a origem de uma obra e seu ponto final. Sob a perspectiva das
inferências, redes de interações, observamos uma diversidade de conexões que
parece propiciar uma obra e, do mesmo modo, diferentes desdobramentos de uma
obra entregue ao público. A progressão potencialmente infinita pode ser
percebida nas modificações que dão origem a outra edição, outra apresentação,
outra exposição ou outra montagem. Podemos também encontrar temas sendo
revistos, personagens reaproveitados etc. Pode-se falar que o artista mostra
publicamente sua obra em instantes em que o “ponto final” é suportável. Temos
assim uma definição mais aprofundada do movimento da criação, que nos leva a
falar de sua continuidade sem demarcações
de origens e fins absolutos.” (p.
“A continuidade do processo
enfrenta diferentes ritmos de
trabalho. São inúmeras as notas, em documentos que acompanham a produção de
obras, lamentando fases de falta de ritmo, cobrando mudanças de ritmo ou
aproveitando momentos de ritmo adequado. A qualidade da produção não está,
necessariamente, associado a velocidade. [...] Essa continuidade envolve esperas. A relação do artista com sua
matéria-prima – palavra, tinta etc... – é estabelecida na tensão entre suas
propriedades e sua potencialidade.” (p.
“os escritórios da criação guardam ainda um
outro tipo de espera: o “tempo da
gaveta”. Obras em construção aguardam a avaliação do artista para serem
mostradas ao público. A obra espera pelo tempo do artista. Essas avaliações
podem causar novas alterações e, consequentemente, a continuidade da
experimentação. Esse tempo é potencialemnte sem fim, é o tempo do
inacabamento. O gesto é sempre inacabado.” (p.
“Como vemos, as esperas nos levam naturalmente
a simultaneidade, que pode assim
ser observada sob dois pontos de vista. O processo de construção de obras
implica maturação, que exige o tempo de espera, como acabamos de discutir.
Isto leva muitos artistas a trabalharem diversas obras simultaneamente.
Enquanto uma está sendo manipulada, outras aguardam sua atenção futura.
Por outro lado, esta permanente avaliação do
artista está inserida na continuidade do percurso e em sua incompletude, que
lhes é inerente: há sempre uma diferença entre aquilo que se concretiza e o
projeto do artista que está sempre por ser realizado. Esta relação entre o
que se tem e o que se quer é traduzida por tentativas de adequações. Como
consequencia, o artista convive, por vezes, com uma grande diversidade de
possibilidades de obras.” (p.
“O espaço e o tempo sociais da criação estão
permanentemente interagindo com a individualidade do artista. Nessa discussão
dos diferentes ângulos do tempo e do espaço nos localizamos melhor em meio à
complexa operação poética. Cabe-nos compreender como, nesse clima de
turbulência, tudo o que passa a fazer parte daquilo que envolve as
construções das obras é processado pelo artista e pela obra. Um possível
caminho para essa aproximação é discutir a relação entre percepção e memória
e o modo como os recursos criativos são utilizados pelo artista, ou seja, o
espaço da subjetividade transformadora.” (p.
“a cultura é uma Inteligência coletiva e uma
memória coletiva, isto é, um mecanismo supra-individual de conservação e
transmissão de certos comunicados (textos) e da elaboração de outros novos.
Nesse sentido, o espaço da cultura pode ser definido como um espaço de certa
memória comum, isto é, um espaço dentro de cujos limites alguns textos comuns
podem se conservar e ser atualizados”. (LOTMAN, 1998, p.157, apud SALLES, 2006, p.66, l.9)
“Podemos, assim, perceber, mais uma vez, esse
paralelismo entre os modos de ação da cultura e aqueles do indivíduo [...].
Ao falar de esquecimento (estratégias que proporcionam lembranças e outras
que propiciam esquecimento), de conservação, transmissão e atualização de
textos, estamos discutindo também modos de desenvolvimento do pensamento do
indivíduo e de suas lembranças, uma das matérias-primas da criação.” (p.67,
l.11)
“os artistas não fazem seus registros,
necessariamente, nas linguagens nas quais as obras se concretizarão; estes
apontamentos, quando necessário, passam por traduções ou passagens para
outros códigos. As linguagens que compõem esse tecido e as relações estabelecidas
entre elas dão singularidade a cada processo. Percebemos, portanto, que há
uma estreita relação entre as tramas semióticas dos processos e o modo de
desenvolvimento do pensamento de cada indivíduo.” (p.95, l.18)
“Assim como não se pode falar em lócus da
criatividade, toda nossa discussão mostrou a impossibilidade de se definir um
lugar específico onde a criação acontece. Os momentos sensíveis que são
percebidos pelo artista como possíveis encontros ou descobertas estão
espalhados ao longo do processo: nas anotações das caminhadas, no encontro de
“pedras” instigantes, na relação com obras de outros artistas, na leitura de
um pensador, no encontro de uma solução para um problema, na correção de um
erro, no acolhimento o casão etc.” (p.152, l.3)
“Durante nossas reflexões, observamos a
impossibilidade de se estabelecer uma separação entre o artista e seu projeto
poético e a necessidade de se observar os processos de criação como espaço de
constituição da subjetividade. Obras e artista não só estão imbricados de
modo vital, como estão sempre em mobilidade. São redes em permanente
constituição.” (p.152, l.13)
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Comentário pessoal
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A criação acontece em redes porque tudo o que
cerca o artista pode interferir na obra e vice-versa, mudando o percurso criativo,
oferecendo alternativas para a criação que resultariam em outras obras ou
mesmo fomentando a construção de uma outra obra em paralelo ou posterior.
Essa visão da criação artística reforça a
nossa crença de que a arte, particularmente o teatro, pode ser praticada por
qualquer pessoa, sem necessidade de uma formação artística prévia, e que a
obra artística é resultado de muito trabalho e não de uma inspiração sem
explicação, o que embasa o nosso trabalho em sala de aula.
“Todas as pessoas são capazes de atuar no
palco. Todas as pessoas são capazes de improvisar. As pessoas que desejarem
são capazes de jogar e aprender a ter valor no palco. “ (SPOLIN, Viola.
Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 2008, p.3, l.1)
Todo o processo, a seleção dos estímulos e a
forma das combinações é muito subjetivo. Uma análise do processo através
desses registros deve ser muito cuidadosa e pressupõe um certo conhecimento
do subjetivismo do criador para que se possa buscar imaginar como ele estabeleceu
as relações. A análise dos registros deixados pelo artista durante o processo
pode auxiliar essa pesquisa.
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Utilização de materialidades no processo criativo
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Sonho, museus, cartas, outras obras,
jornal.
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OBSERVAÇÕES PESSOAIS E DESTAQUES:
“Estética do processo”
A obra nunca esta realmente acabada. É um eterno
processo, mesmo depois de entregue ao público.
Dá continuidade a proposta iniciada no livro
“Gesto Inacabado”, que busca compreender os processos de construção da obra de
arte através dos documentos deixados pelos artistas durante o processo de
construção relacionando-os com a obra entregue ao público. -
“Percursos de criação”.
“Pretendemos, com as reflexões que esses
documentos proporcionam, oferecer uma outra maneira de se aproximar da arte, que
incorpora seu movimento construtivo.” (SALLES, 2006, p.13, l .11)
“Cada versão contém, potencialmente, um objeto
acabado e o objeto considerado final representa, de forma potencial, também,
apenas um dos momentos do processo.” (SALLES, 2006, p.26, l .28)
A criação acontece em redes porque tudo o que
cerca o artista pode interfeir na obra e vice-versa, mudando o percurso
criativo, oferendo alternativas para a criação que resultariam em outras obras
ou mesmo fomentando a construção de uma outra obra em paralelo ou posterior.
“Se o pensamento é relacional, há sempre signos
prévios e futuros. Esta abordagem do movimento criador, como uma complexa rede
de inferências, reforça a contraposição à visão da criação como uma
inexplicável revelação sem história, ou seja, uma descoberta sem passado, só
com o futuro glorioso que a obra materializa.” (SALLES, 2006, p.27, l .3)
“Uma decisão do artista tomada em determinado
momento tem relação com outras anteriores e posteriores. Do mesmo modo, a obra
vai se desenvolvendo por meio de uma série de associações ou estabelecimento de
relações. A “anotação no guradanapo do bar”, muitas vezes, não é nada mais que
a tentativa de não deixar uma associação se perder.” (SALLES, 2006, p.27, l .22)
Na
sequencia, a autora diz que, dentre as influências possíveis para a criação,
estão outras obras de arte e ressalta a importância de um cenário de
efervescência cultural para estimular a creiação. Fala também da influência da
tradição, através da apreciação dos predecessores, e do diálogo com os
contemporâneos, bem como da relação com o espaço de trabalho, seja ele externo
ou interno.
“A continuidade nos leva ainda a observar que nunca se sabe
com precisão onde o processo se inicia e finda. É sempre vã a tentativa de
determinar a origem de uma obra e seu ponto final. Sob a perspectiva das
inferências, redes de interações, observamos uma diversidade de conexões que
parece propiciar uma obra e, do mesmo modo, diferentes desdobramentos de uma
obra entregue ao público. A progressão potencialemnte infinita pode ser percebida
nas modificações que dão origem a outra edição, outra apresentação, outra
exposição ou outra montagem. Podemos também encontrar temas sendo revistos,
personagens reaproveitados etc. Pode-se falar que o artista mostra publicamente
sua obra em instantes em que o “ponto final” é suportável. Temos assim uma
definição mais aprofundada do movimento da criação, que nos leva a falar de sua
continuidade sem demarcações de origens
e fins absolutos.” (SALLES, 2006, p.59, l .24, grifo da autora)
“A continuidade do processo
enfrenta diferentes ritmos de
trabalho. São inúmeras as notas, em documentos que acompanham a produção de
obras, lamentando fases de falta de ritmo, cobrando mudanças de ritmo ou
aproveitando momentos de ritmo adequado. A qualidade da produção não está,
necessariamente, associado a velocidade. [...] Essa continuidade envolve esperas. A relação do artista com sua
matéria-prima – palavra, tinta etc... – é estabelecida na tensão entre suas
propriedades e sua potencialidade.” (SALLES, 2006, p.60, l .26)
“os escritórios da criação guardam ainda um
outro tipo de espera: o “tempo da
gaveta”. Obras em construção aguardam a avaliação do artista para serem
mostradas ao público. A obra espera pelo tempo do artista. Essas avaliações
podem causar novas alterações e, consequentemente, a continuidade da
experimentação. Esse tempo é potencialemnte sem fim, é o tempo do inacabamento.
O gesto é sempre inacabado.” (SALLES, 2006, p.61, l .28)
“Como vemos, as esperas nos levam naturalmente a
simultaneidade, que pode assim ser
observada sob dois pontos de vista. O processo de construção de obras implica
maturação, que exige o tempo de espera, como acabamos de discutir. Isto leva
muitos artistas a trabalharem diversas obras simultaneamente. Enquanto uma está
sendo manipulada, outras aguardam sua atenção futura.
Por outro lado, esta permanente avaliação do artista
está inserida na continuidade do percurso e em sua imcompletude, que lhes é
inerente: há sempre uma diferença entre aquilo que se concretiza e o projeto do
artista que está sempre por ser realizado. Esta relação entre o que se tem e o
que se quer é traduzida por tentativas de adequações. Como consequencia, o
artista convive, por vezes, com uma grande diversidade de possibilidades de
obras.” (SALLES, 2006, p.61, l .34)
“O espaço e o tempo sociais da criação estão
permanentemente interagindo com a individualidade do artista. Nessa discussão
dos diferentes ângulos do tempo e do espaço nos localizamos melhor em meio à
complexa operação poética. Cabe-nos compreender como, nesse clima de
turbulência, tudo o que passa a fazer parte daquilo que envolve as construções
das obras é processado pelo artista e pela obra. Um possível caminho para essa
aproximação é discutir a relação entre percepção e memória e o modo como os
recursos criativos são utilizados pelo artista, ou seja, o espaço da subjetividade
transformadora.” (SALLES, 2006, p.65,
l .19)
“a cultura é uma Inteligência coletiva e uma
memória coletiva, isto é, um mecanismo supra-individual de conservação e
transmissão de certos comunicados (textos) e da elaboração de outros novos.
Nesse sentido, o espaço da cultura pode ser definido como um espaço de certa
memória comum, isto é, um espaço dentro de cujos limites alguns textos comuns
podem se conservar e ser atualizados”. (LOTMAN, 1998, p.157, apud SALLES, 2006, p.66, l.9)
“Podemos,
assim, perceber, mais uma vez, esse paralelismo entre os modos de ação da
cultura e aqueles do indivíduo [...]. Ao falar de esquecimento (estratégias que
proporcionam lembranças e outras que propiciam esquecimento), de conservação,
transmissão e atualização de textos, estamos discutindo também modos de
desenvolvimento do pensamento do indivíduo e de suas lembranças, uma das
matérias-primas da criação.” (SALLES, 2006, p.67, l.11)
A memória
é registrada se uma forte impressão for deixada e as percepções são, por sua vez,
influenciadas pela memória, que podem sofrer modificações a partir de novas
percepções, num ciclo. Assim também a imaginação é ativada pela memória, que
pode ser modificada pela imaginação. As anotações e registros dos artistas são
tentativas de evitar que determinadas impressões sejam esquecidas.
“os artistas não fazem seus registros,
necessariamente, nas linguagens nas quais as obras se concretizarão; estes
apontamentos, quando necessário, passam por traduções ou passagens para outros
códigos. As linguagens que compõem esse tecido e as relações estabelecidas
entre elas dão singularidade a cada processo. Percebemos, portanto, que há uma
estreita relação entre as tramas semióticas dos processos e o modo de
desenvolvimento do pensamento de cada indivíduo.” (SALLES, 2006, p.95, l.18)
“Assim como não se pode falar em lócus da
criatividade, toda nossa discussão mostrou a impossibilidade de se definir um
lugar específico onde a criação acontece. Os momentos sensíveis que são
percebidos pelo artista como possíveis encontros ou descobertas estão
espalhados ao longo do processo: nas anotações das caminhadas, no encontro de
“pedras” instigantes, na relação com obras de outros artistas, na leitura de um
pensador, no encontro de uma solução para um problema, na correção de um erro,
no acolhimento o casão etc.” (SALLES, 2006, p.152, l.3)
“Durante nossas reflexões, observamos a
impossibilidade de se estabelecer uma separação entre o artista e seu projeto
poético e a necessidade de se observar os processos de criação como espaço de
constituição da subjetividade. Obras e artista não só estão imbricados de modo
vital, como estão sempre em mobilidade. São redes em permanente constituição.”
(SALLES, 2006, p.152, l.13)
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