O Jogo Dramático Infantil




Referências
bibliográficas


SLADE, Peter. O Jogo Dramático Infantil. São Paulo: Summus, 1978.

Breve resumo
Em “O Jogo Dramático Infantil”, o autor considera que o jogo dramático é um comportamento inerente ao ser humano durante todo o seu desenvolvimento e é particularmente observável em crianças.
Nas fases mais precoces, fica mais evidente o jogo projetado, no qual a criança projeta uma realidade imaginada, interagindo com brinquedos e não atuando com o corpo inteiro. A partir dos cinco anos torna-se mais freqüente o jogo pessoal, no qual a criança atua com todo o corpo, assumindo um papel.
Nesse livro, o autor expõe ainda como os pais podem estimular o drama infantil e fornece sugestões de atividades para serem realizadas com crianças de diferentes faixas etárias.

Transcrições de citações mais importantes

“O Jogo Dramático Infantil é uma forma de arte por direito próprio; não é uma atividade inventada por alguém, mas sim o comportamento real dos seres humanos.” (p.17, l1)

“Nessa brincadeira teatral infantil existem dois momentos de caracterização e situação emocional tão nítidos, que fizeram surgir uma nova terminologia: “Jogo Dramático”. Este sempre nos pareceu um bom termos, pois ao pensar em crianças, especialmente nas menores, uma distinção muito cuidadosa deve ser feita entre drama no sentido amplo e teatro como é entendido pelos adultos. Teatro significa uma ocasião de entretenimento ordenada e uma experiência emocional compartilhada; há atores e públicos, diferenciados. Mas a criança, enquanto ainda ilibada, não sente tal diferenciação, particularmente nos primeiros anos – cada pessoa é tanto ator como auditório. Esta é a importância da palavra drama no seu sentido original [...].” (p.18, l.7)

“E nesse drama, notam-se duas qualidades importantes – absorção e sinceridade. Absorção – estar absorto – é estar totalmente envolvido no que está sendo feito, ou no que se está fazendo, com exclusão de quaisquer outros pensamentos, incluindo a percepção ou desejo de um auditório. Sinceridade é uma forma completa de honestidade no representar um papel, trazendo consigo um sentimento intenso de realidade e experiência, e só atingido totalmente no processo de atuar, representar, com absorção.” (p.18, l.31)

“As crianças amam o som e, usando vários ruídos interessantes na escola pré-primária, podemos ajudá-las a criarem à sua própria maneira.” (p.35, l.12)

“Quando as crianças inventam seus próprios jogos dramáticos, permita a representação de muitos personagens e temas que você não aprova. Desta forma, aliviam-se problemas pessoais e familiares e os efeitos de assistir a filmes anti-sociais e ouvir rádio violento podem ser “descarregados”. Não devemos esquecer que nesses momentos as crianças repartem conosco importantes segredos pessoais; trata-se de uma confissão; elas encontram alívio na nossa amizade que lhes permite representar, simulando atos ilegais de uma maneira legalizada. Não devemos fazê-las se calarem ou repreende-las. [...] Esse tipo de jogo é uma forma de expelir, cuspir fora, podendo ser transformada, paulatinamente, em histórias de caráter mais aceitável, se o critério adulto for livre de preconceitos e se o momento correto for escolhido para fazer as sugestões.” (p.52, l.10)

“O Jogo Dramático bem sucedido é não só educação no que ela tem de melhor, mas prevenção também. Ele oferece uma válvula de escape legítima para a energia de bomba-atômica desse grupo social que chamamos de turma.” (p.63, l.4)

Comentário pessoal

O que o autor chama de absorção e sinceridade, e que ressalta com qualidades importantes no jogo dramático, é o que Viola Spolin vai chamar de sujeito total no jogo teatral. Ambos se ligam ao conceito de ludicidade, colocando como fundamental o envolvimento completo do jogador com o jogo/momento.
As principais críticas ao jogo dramático dizem respeito ao excesso de espontaneísmo e deficiência em trabalhar com as convenções teatrais.
Slade, ao dar sugestões de atividades, diferencia atividades que podem ser propostas a grupos de meninas e a grupos de meninos, acredito que tal diferenciação pudesse ser cabível no contexto em que a obra foi escrita, mas perdeu a adequação nos dias de hoje.

Utilização de materialidades no processo criativo

SONS – na descrição de atividades que podem ser realizadas com as crianças, Slade dá o exemplo da utilização de sons. O autor insere diferentes sons no ambiente e estimula as crianças a criarem situações com aquele som (ex.: toca um apito – professor: o que é isto? – criança: um trem! e assim por diante). Essa técnica pode ser usada para a construção de uma narrativa ou para criar uma ambientação.



Teatro pós-dramático na escola




Referências
bibliográficas

ANDRÉ, Carminda Mendes. Teatro pós-dramático na escola (inventando espaços: estudos sobre as condições do ensino do teatro em sala de aula). São Paulo: Editora Unesp, 2011.

Breve resumo
Para elucidar o que seria o teatro pós-dramático, a autora faz, como ela mesma chama, um breve histórico do teatro moderno, explicando o drama e apresentando alguns expoentes da quebra desse paradigma de encenação, a exemplo de Brecht e Artaud.

No teatro pós-dramático, o texto perde sua primazia, a identificação deixa de ser indispensável, o espectador assume papel ativo no espetáculo, deixando de ser mero apreciador e a arte passa a ocupar espaços não convencionais. O teatro deixa, então, de ser representação para ser presentação (fazendo-se no presente), a realidade circundante e o espectador passam também a compor o espetáculo.

A autora foca, então, na arte intervencionista, apresentando-a como uma prática popular e de subversão da ótica e dos comportamentos comuns que são, na verdade, imposições absorvidas e internalizadas pela população que já não mais necessariamente as percebe como normatizadoras e descreve alguns experimentos do Núcleo de Artes Pitorescas (NAP) – Alerta, grupo do qual faz parte.

A última parte da obra é dedicada à relação entre teatro e educação, traçando um resumo do percurso da arte educação no Brasil e destacando a necessidade de, assim como na vida cultural da sociedade, a escola proporcionar aos alunos o contato com diferentes formas de teatro, incluindo aí o happening e a performance.


Transcrições de citações mais importantes


“As aproximações da cena teatral com fatos do cotidiano têm provocado inúmeras mudanças, seja no fazer arte, seja no contexto cultural em que se insere. Dentre essas mudanças, nota-se o aparecimento da proposição de uma outra cena que se faz como acontecimento do presente e não mais como representação; observa-se também a atenuação de linhas de fronteira entre a arte e vida que desmistifica o mito da “arte desinteressada” produzindo uma arte comprometida com as condições em que é gestada.” (p.17, l.1)

“A realidade, não mais compreendida como dado natural, nem efeito do passado, se mostra teatral, fabricada. É desse modo que compreendemos a expressão “sociedade do espetáculo”. Diante desse fenômeno, o caminho da arte vai na contramão da representação dessa realidade, pois a rejeita, a quer desmascarar.”  (p.32, l. 8)

“Nesse sentido, pode-se dizer que o drama é uma narrativa do tipo mimético, pois elabora personagens a partir da observação da vida empírica (fenomênica) com a função de representar estágios de humanidade dos homens, representação esta baseada em um modelo universal de humanidade. É dessa forma que a civilização ocidental, no período chamado modernidade, vem construindo e mantendo seus princípios de ética, sua estrutura política e seus modos de produção do conhecimento.” (p.37, l.25)

“[...] no palco hoje só resta o jogo dos atores. Claro, ainda encontramos ali personagens e efeitos imaginários ligados aos papéis. Mas são agora efeitos secundários, que não sustentam mais a singularidade do teatro e não trazem mais em si nem com eles a razão de sua necessidade. Isso que se designa como o jogo do ator ocupa hoje em dia todo o espaço deixado livre, habita todo o palco. Sua necessidade intrínseca não pode ser mais deduzida da necessidade de dar vida a personagens. Ele não precisa mais atender a esta demanda. Ele estrutura sozinho o domínio, responde por si: a necessidade do jogo é o jogo. [...] Nossa questão não é mais fazer viver, nem, portanto, viver papéis. Pode ser necessário faze-los viver, mas para fazer viver o jogo. É o jogo que sustenta o papel, não mais o contrário. “ (Guénoun, 2004, apud André, 2011, p.58, l.23)

“Esse derramamento da arte para espaços e ocasiões não convencionais transforma-a em ações de intervenções no ambiente cultural, ressignificando esses espaços e o próprio fazer artístico.” (p.65, l.7)

“[...] o teatro que se mostra assume características de uma realidade mais imediata, mais fugaz: constitui-se da contracena imediata com o receptor, de sua presença ativa. Por essa razão, chama-se aqui de teatro da presentação, diferenciando-o do teatro da representação simbólica.” (p.65, l.14)

“[...] os atuantes de intervenções buscam ampliar os domínios da arte do teatro afetando-se com elementos que podem ser encontrados nas ruas, praças, situações cotidianas e que ainda não ganharam uma estruturação artística consciente. E, tal como os dadaístas, eles não procuram elementos belos para valorizar a imagem de sua cena. O que importa em sua atitude é alcançar um certo estado de atenção que lhes permite ser afetados por aquilo que está além do conhecido ou por algo que está esquecido, mas ainda vivo na memória e no imaginário dos desejos. Andando sem intencionalidade, sem procurar algo específico, o atuante de intervenções tem a chance de “perceber” “elementos inconscientes” encontrados no meio cultural. Uma vez afetado pelo mundo, o artista propõe uma ação interativa com aquele elemento no espaço.” (p.66, l.15)

“A experiência da identificação não mais se faz possível no teatro, posto que não mais se trata de um espaço freqüentado por uma comunidade. A platéia da atualidade é formada por uma diversidade incapaz de uma experiência única.” (p.75, l.28)

“Do mesmo modo que não há mais um discurso, mas diversos, não há mais uma obra, mas diversas obras a serem concebidas por um receptor-participante.” (p.76, l.12)

“Os espaços da cidade, com suas características e com seu repertório de uso, interferem nos modos de percepção. Esses usos são resultado de um conjunto de elementos: tipos de construções e de usuários, zoneamento, trânsito de veículos e pessoas, mecanismos de controle dos transeuntes, práticas cotidianas aí realizadas e outros. É na interação com esses elementos que o artista compõe seu texto cênico.” (p.76, l.26)

“A ação intervencionista [...] tem por meta resistir às práticas condicionadoras da sensibilidade do cidadão, bem como aos dispositivos de direcionamento das respostas politicamente corretas em relação ao padrão desejado.“ (p.78, l.10)

“A participação do transeunte não é direcionada, dessa maneira o artista deve estar preparado para jogar com a multiplicidade: alguns compartilham da “malandragem” com o artista, outros testam a eficiência tática do artista, outros ainda compartilham do sonho do espaço coletivo, ou seja, cada jogador-transeunte se apropria diferentemente dos signos oferecidos pelo artista conforme seus modos de pensar e exercer a vida, conforme uma lógica e uma ética de vida pessoal.” (p.83, l.16)

“Do que se trata essa arte? Modos de cavar espaços em lugares já dominados por uma significação e inventar usos diferentes para esses lugares coletivos tais como ônibus, filas, calçadões, lanchonetes, onde houver uma ocasião, exposições; enfim, atua-se onde se reconhece um lugar saturado e enfraquecido pela vigilância. Desse modo, rememora-se a função legitimadora e normatizadora de um espaço público tradicional, revelando a contradição entre um lugar denominado “público”, e que disciplina as trocas entre os indivíduos por meio da vigilância normativa, e um espaço livre de trocas identitárias.” (p.84, l1).

“Se se levar em conta que se convive com a presença simultânea de diferentes formas de teatro – dramático, teatro épico, teatro mítico e teatro não dramático – e que eles só existem porque ainda são necessários a um ou mais grupos de espectadores, não há nada que impeça de pensar que as necessidades culturais são plurais – modernização, identidade nacional, busca de táticas contra a hiperexposição, e assim por diante. Parece, assim, interessante notar o quanto essas necessidades do teatro na vida cultural caminham em paralelo com as necessidades do teatro no ambiente escolar; mantê-las múltiplas é sinal de saúde.” (p.133, l.11)

 “Detendo-se nas práticas educativas do ensino básico, é fácil perceber que a ação que se pretende educativa está voltada às teorias do teatro e práticas teatrais modernas. Esse fato explica ou justifica, em parte, por que a atitude do professor de Artes tem se restringido a mediar os referenciais teóricos da produção teatral da tradição com os referenciais culturais dos alunos. [...] Essa atitude docente é, em nosso entender, o resultado de um pensamento que compreende a arte como um bem inquestionável, como se a arte estivesse livre das influências da vontade de poder.” (p.133, l.22)

“A imagem poética ilumina com tanta intensidade nossa consciência que ela passa a ser, em sua recepção, uma tomada de consciência.” (p.146, l.31)

“[..] ao compreender as formas repetidas pelos alunos como reflexos de conteúdos adquiridos e não como tendências naturais, leva a pensar em outros os modos de observação do professor que, em vez de buscar as semelhanças dos comportamentos linguísticos, tal como Slade, se lança à leitura das cenas dos amadores no intuito de reconhecer nelas um certo adestramento que sua imaginação recebe do meio sociocultural, observando o quanto esses modos aprendidos são condicionantes para a elaboração de suas criações e concepções. Sendo assim, os conteúdos e formas que se manifestam no jogo amador não mais seriam consideradas espontâneas no sentido de livres de interferências do mundo social; ao contrário, expressariam formas convencionadas pela vida cultural familiar, escolar e divulgadas pelos meios de comunicação de massa. As cenas dos amadores acabam por servir como diagnóstico das imagens e estruturas lingüísticas que povoam o imaginário dos aprendizes e que determinam, até certo ponto, sua imaginação, condicionando a repetição indefinida de formas estereotipadas.” (p.160, l.18)

“A arte-educação, tal como o nome indica, surge da aspiração de aproximar teatro e educação, “processo” e “produto”. É nesse contexto que a prática dos jogos teatrais, desenvolvido pela norte-americana Viola Spolin, entra no contexto brasileiro. A prática do teatro-educação a partir dos jogos teatrais, sem eliminar os objetivos expressivos do sujeito em formação, acrescenta o desenvolvimento das habilidades cênicas no ensino do teatro em sala de aula.” (p.161, l.4)

“No jogo teatral, a autora idealiza o sujeito da experiência como um sujeito total ou sensível que atua com todas as suas capacidades: intelectivas, físicas, emocionais e intuitivas. O princípio de realidade que rege essa corrente de pensamento é acreditar que, atuando em sua totalidade, esse sujeito reconhece a totalidade da realidade que o constitui, tendo condições de elaborar, ele próprio, uma práxis apropriada para atuar de modo emancipado. [...] Nesse contexto, as atividades artísticas entram no ambiente escolar com o propósito de contribuir para que a criança se desenvolva como um todo, e não apenas em seu intelecto, desbloqueando suas capacidades de expressão.” (p.161, l.13)

“Se os teatros de hoje apresentam espetáculos que realizam o teatro dramático, o teatro épico, o teatro mítico e a performance, se na rua os artistas executam intervenções com variações diversas, entende-se que a mesma multiplicidade deva ser encontrada nas práticas escolares relacionadas ao ensino do teatro.” (p.173, l.28)

“Imagina-se, então, um programa de ensino. Ele poderia ser renomeado sugestivamente por programação de eventos de arte na educação. Programação porque não se trata mais de uma educação que tem por proposta a elaboração de um projeto capaz de englobar as origens e as objetividades do teatro (mundial ou ocidental, ou sul-americano ou nacional) na educação. O trabalho do educador, entre outros, é o de recolher signos que ainda vivem na vida cultural e acadêmica para serem submetidos a tensões criadas por aproximações, com a finalidade de mover os sujeitos envolvidos a ponto de abalar a fixidez dos valores consensuais de ambas as posições.” (p.174, l.31)

“Os modos de apropriação dos signos não são induzidos a interpretações apenas realistas. O grupo é estimulado a traduzir o outro (um texto lido, por exemplo) em linguagem própria, livremente até que suas aproximações façam acontecer a reinterpretação dos valores dos signos.” (p.175, l.18)

“A produção artística entendida dessa maneira não se reduzirá à busca de novas forma e conteúdos, possibilitando os sujeitos envolvidos a se desviarem da obsessão pela novidade que o consumismo de mercado quer-lhes impor. Nessas aulas, o que parecem falsificações e deformações produzidas pelas interpretações dos indivíduos, sem deixar de o ser, não mais são desvalorizadas como erros a serem corrigidos; ao contrário, elas serão tematizadas; não para valorizá-las como verdades, mas para analisar as motivações (vontade de saber) que a fazem presentes no presente. Nesse ponto, a multiplicidade das interpretações que necessariamente surgirão nos momentos de análise dos signos, servirá de contexto. O ensino deixa de transmitir conhecimentos (os modos de construção da cena) para garantir a experiência da transcriação dos valores.” (p.175, l.28)

“A tática da ação cultural é exercida dentro e fora do ambiente escolar, depende do jogo que se estabelece entre propositores e participantes, dentro do espaço. Mas a cena aí inventada é poesia no espaço e, como tal, constitui-se nele. Nos lugares que essa cena se instala, seu efeito é o de perturbar aquilo que está fixo, ressignificando os signos, mudando o valor das coisas do lugar. Por exemplo, o banheiro da escola não é mais um cenário realista, mas um esconderijo; as grades não são mais o símbolo da segurança e da integridade dos que estão dentro, mas o aprisionamento daqueles que estão estudando, em contrate à liberdade dois que estão fora; do mesmo modo, o vestuário não é mais o uniforme, mas um símbolo de identidade, e assim por diante.” (p.196, l.15)

“Olhando a arte por um certo ângulo, nota-se que o grande problema que os professores de arte enfrentam atualmente está no uso que a educação faz dela na escola; sua instrumentalização para algo que lhe é estranho. Se a arte é educativa é porque ela mesma propõe experiências que são formas de conhecimento. Se a arte pode contribuir para o ensino, ampliar seu alcance para outras racionalidades, é sendo ela mesma e não arte educativa ou arte para a educação . [...] Não se quer dizer que a arte seja desinteressada, tal como se pensava no século XIX, mas que esta só interessa quando está atuando em seu próprio.” (p.200, l.4)

“Propomos que as aulas de teatro atentem para os sinais de crise que estão presentes nos lugares mais cotidianos, que professores e alunos olhem para as instalações dos prédios onde atuam, que percebam quais são os sujeitos de tais práticas escolares e as relações de poder existentes. Talvez, a arte que se faz a  partir do cotidiano nada mais seja que um “pequeno trabalho”, feito de ações que podem nos levar a pequenas intervenções no cotidiano, incluindo as educativas.” (p.211, l.21)

Comentário pessoal

Segundo a autora, os artistas intervencionistas buscam “alcançar um certo estado de atenção que lhes permite ser afetados por aquilo que está além do conhecido ou por algo que está esquecido, mas ainda vivo na memória e no imaginário dos desejos” (p.66, l.20). Esse estado de atenção requisitado, segundo a autora, para a realização da intervenção cênica, remete ao trabalho do palhaço, que também precisa estar num estado em que as pequenas coisas à sua volta o afetem para que com elas interaja. Apenas nesse estado de “ingenuidade” frente às coisas comuns o palhaço conseguiria ser verdadeiro. Isto porque, a arte do palhaço também é intervencionista.

Uma vez que a arte da intervenção se faz no momento e a partir dos elementos disponíveis no espaço utilizado, dispensando um texto previamente elaborado, a principal fonte para a criação vem das materialidades que ora que se apresentam à disposição do atuante (objetos, postes, bancos, transeuntes, intervenções do público, sons, chuva, etc.).

Porquanto o teatro não apresenta mais uma obra acabada com intuito de reproduzir a realidade e “ensinar” ao público padrões desejados, o papel do receptor passa a ser também de produtor, interpretando e preenchendo as lacunas deixadas pela encenação para chegar à sua própria compreensão do espetáculo não mais assistido, mas vivenciado.

Essa prática subversiva dos padrões comportamentais cotidianos e das relações convencionais com as materialidades disponíveis exercita nas pessoas em volta a prática de um olhar diferenciado, que foge aos padrões impostos pela elite detentora dos meios de produção e comunicação em massa, que ditam as normas vigentes.

A prática intervencionista pode ser caracterizada como uma forma de cultura que opta por ser popular. Isso compreendendo povo, assim como propõe Boal, como aqueles que dependem dos meios de produção alheios. Nessa forma de produção artística, a produção é compartilhada e o público também compõe o espetáculo, podendo, se assim desejar, apropriar-se de meios de produção daquela obra naquele momento. Por isso podemos entender que o artista de intervenção opta por ser popular e partilhar seus meios de produção com o público.
Todavia, convém ressaltar que apenas nessa experiência o público não se apropria dos meios de produção de forma a se sentir capacitado para posteriormente o fazer sozinho, sem a necessidade do artista intervencionista, o que fragiliza essa linha de raciocínio.

O conceito de sujeito total pressuposto por Spolin e considerado por André, vai ao encontro da definição de ludicidade:
[...] no estado lúdico o ser humano está inteiro, ou seja, está vivenciando uma experiência que integra sentimento, pensamento e ação, de forma plena. A vivência se dá nos níveis corporal, emocional, mental e social, de forma integral e integrada. Esta experiência é própria de cada indivíduo, se processa interiormente e de forma peculiar em cada história pessoal. Portanto, só o indivíduo pode expressar se está em estado lúdico. Uma determinada brincadeira pode ser lúdica para uma pessoa e não ser para outra. (BACELAR, p.25, l.3)
Desta forma, apreendemos que, apenas vivenciando um estado lúdico o educando pode se desenvolver como um todo, de forma integrada.

Utilização de materialidades no processo criativo

Elementos disponíveis no espaço, encarados de forma não usual.
Exemplos: potes de gelatina, marcação com fita crepe, ônibus, mesa, cabides, transeuntes, casas e construções...


OUTRAS OBRAS CITADAS:

BACELAR, Vera. Ludicidade e Educação Infantil, Salvador: EDUFBA, 2009.

Leitura das Pinturas Narrativas de Peter Brüghel, o Velho


FICHA DE LEITURA

Referências
bibliográficas

KOUDELA, Ingrid. Leitura das Pinturas Narrativas de Peter Brüghel, o Velho. In: IV Reunião Científica de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cenicas, 2007, Belo Horizonte.
Disponível em: www.portalabrace.org. Acesso em: 08 out. 2012.

Breve resumo
A autora descreve seu trabalho em sala de aula com processos criativos em teatro tendo como pré-texto os quadros de Peter Brughel.

Transcrições de citações mais importantes

“Um segundo passo, mais específico em Brecht, se diferencia pelo fato de chamar a atenção para processos sociais. Em oposição a outras tendências artísticas, ele busca meios que visam mostrar as relações dos homens entre os homens, sendo que justamente aquilo que é cotidiano, usual, deve ser tratado como histórico.” (p.2)

“A etapa da descrição da imagem é um dos momentos mais sutis e produtivos na leitura de imagens. A verbalização daquilo que é visualizado faz com que a percepção de formas e conteúdos seja trazida para a consciência. “ (p.2)

Comentário pessoal

A autora descreve as etapas de uma de suas aulas a partir das imagens dos quadros de Peter Brughel. É particularmente interessante essa apropriação do conetúdo da obra através da verbalização que, posteriormente, será convertida em imagens congeladas e cenas.

Utilização de materialidades no processo criativo


  Quadros de Peter Brughel

A Ludicidade e a expressão criativa presentes em teatro de bonecos, na abertura de perspectivas estéticas em discentes da educação básica



Referências
bibliográficas

FERRAIUOLI, Adriano de Almeida. A Ludicidade e a expressão criativa presentes em teatro de bonecos, na abertura de perspectivas estéticas em
discentes da educação básica. Anais do V ENLETRARTE, Campos dos Goytacazes, 2011. Disponível em: http://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/enletrarte/article/view/2040. Acesso em: 10 out. 2012.

Breve resumo
O autor faz uma crítica ao sistema de ensino vigente a fim de salientar a necessidade de mudança nos métodos de trabalho.
Em seguida, conceitua criatividade, apontando-a como a principal característica do trabalho artístico e salienta a importância da valorização da experiência prévia do educando e a necessidade de aproximar o trabalho da realidade dos discentes e promover trocas entre eles num processo dialético de ensino-aprendizagem.
O autor apresenta, então, a definição de ludicidade como uma vivência de um estado de inteireza que deve ser condição fundamental no ensino para crianças e aponta o teatro de bonecos como alternativa de trabalho lúdico em sala de aula.
Ferraiuoli baseia-se em Vigostsky para afirmar que o jogo, o brincar, é uma via de aprendizado para  criança e que o teatro, a dramatização possibilita essa brincadeira.

Transcrições de citações mais importantes

“Assim, como desafio do presente trabalho teórico-prático, que estamos desenvolvendo através de uma pesquisa de pós- graduação, relacionada ao Programa do Mestrado em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, vimos utilizando o teatro de bonecos como um instrumento potencializador da criatividade, ludicidade e das relações socioculturais de educandos, tendo em vista a necessidade de formação integral de sujeitos históricos, ressignificando suas experiências de forma crítica, estética e criativa.” (p. 2)

“As vivências em teatro de bonecos como uma proposta pedagógica poderá estabelecer uma relação mediadora entre os alunos e o pesquisador, na medida em que o pesquisador no desenvolvimento da pesquisa, direcione as atividades de forma a estabelecer um exercício dialético entre o conhecimento que detém e o que as crianças trazem de seu universo sociocultural.” (p. 10)

“Assim, cabe ao pesquisador propiciar nas vivências em teatro de bonecos
uma “materialidade da ação”, que busque a interatividade, objetivando a promoção da integração, do sentimento de pertença, de trocas, da crítica e da autocrítica, de discussões temáticas e de elaborações colaborativas, como: exploração, experimentação e descoberta entre as crianças (SILVA, 2010, p.206).” (p. 12)

“Desta forma, as vivências em teatro de bonecos, podem vir a representar
uma possibilidade de aplicação de práticas pedagógicas lúdicas, que busquem a espontaneidade, a alegria, a autonomia e a liberdade associadas diretamente ao desenvolvimento da criatividade nas crianças.” (p. 12)

“A atividade expressiva em teatro de bonecos utilizará como uma de suas ferramentas didáticas o boneco, um fantoche, criado e confeccionado artesanalmente pelas próprias crianças. Pretende-se que o participante, ao criar, confeccionar e manipular os bonecos para participação nas vivências de teatro de bonecos, possa estar em contato direto com o ato de brincar, possivelmente, desenvolvendo sua criatividade através da ludicidade, além da oportunidade da interação com os seus colegas de turma.” (p. 13)

“A partir da constatação dos primeiros resultados da pesquisa que já foram
coletados, encontramos no processo das vivências em teatro de bonecos um espaço de criatividade e de ludicidade a partir de um entrelace das relações na busca de soluções criativas pela consciência do corpo em ação intencional com o meio. O teatro de bonecos se revela como uma linguagem estética, que utiliza do corpo, da voz, da criação plástica e corporal, da expressão lúdica e poder criativo do corpo. Apresentando-se como um recurso didático para a Educação e para o Ensino da Arte capaz de favorecer significativamente no desenvolvimento da criatividade, da ludicidade e das interações socioculturais das crianças participantes do projeto.” (p. 16)

Comentário pessoal

Senti falta de exemplos práticos da utilização de bonecos em sala de aula  e da exposição dos resultados da pesquisa prática, que devem ser dados disponíveis para o autor, uma vez que ele próprio, na introdução informa que a sua pesquisa é de caráter teórico-prático.

Utilização de materialidades no processo criativo


 Bonecos – fantoches criados e confeccionados pelos alunos


Referências utilizadas pelo autor e aqui citadas:

SILVA, M. Sala de Aula Interativa. São Paulo: Loyola, 2010.




Teatro-Educação e Ludicidade: novas prespectivas em educação



Referências
bibliográficas

COSTA, Alexandre S. da. Teatro-Educação e Ludicidade: novas prespectivas em educação. Revista da Faced, Salvador, nº 08, p. 95-108, 2004. Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rfaced/article/viewArticle/2815. Acesso em: 08 out. 2012.

Breve resumo
O texto ressalta a necessidade de que façam também parte do processo formatiovo do educando o estranhar a realidade que nos cerca e o perceber formas de alterá-la. Apresenta ainda o teatro e a ludicidade a ele inerente como uma possível via para a realização dessa proposta.

Transcrições de citações mais importantes

“O teatro-educação, então, possibilita a transcendência da realidade imediata, destruindo a objetividade reificada das relações sociais estabelecidas e abre uma nova dimensão da experiência, o renascimento da subjetividade rebelde, necessária aos dias de hoje.” (p.97)

“[...] a mudança radical e cultural deve basear-se na subjetividade dos próprios indivíduos, na sua inteligência e nas suas paixões, nos seus impulsos e nos seus adjetivos. Nesse viés, percebemos o quão importante é utilizarmos uma linguagem em Arte-Educação que reflita os conflitos inerentes à vida desses educandos e que se utilize e reflita em uma abordagem contextualizada e visceral, por parte dos educandos.” (p. 98)

“Há uma importante constatação que percebemos no Drama como método de ensino e no Teatro-Educação é que as dimensões artísticas e a dimensão educacional alimentam uma a outra. Tal perspectiva faz com que a experiência teatral transforme a compreensão ou o entendimento dos participantes em nível pessoal, social, estético e artístico.” (p. 107)

Comentário pessoal

O discurso do autor é pertinente.
O envolvimento propiciado pelo estado lúdico abre espaço para que a subjetividade se mostre e atue no processo e o teatro pode ser uma experiência lúdica.
Também sabemos que o teatro se coloca como possibilidade para explicitar contradições sociais e estimular a busca e experimentação de alternativas frente às situações colocadas.
Considerando que uma formação crítica e atenta à realidade circundante é fundamental, o teatro e sua inerente ludicidade podem ser uma via de ação.
Senti falta, no entando, de um maior aprofundamento das idéias apresentadas.

Utilização de materialidades no processo criativo


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Drama como método de ensino




Referências
bibliográficas


CABRAL, Beatriz. Drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec, 2006.

Breve resumo
A autora nos apresenta o Drama como método ensino expondo a sua possibilidade de uso tanto como eixo curricular quanto como ferramenta de ensino. Traz sua conceituação, explica e exemplifica seus principais conceitos e expõe experiências de utilização do método. O Drama propõe um processo coletivo de construção de uma narrativa que incentiva os participantes a conceberem cenas a partir de um pré-texto.

Transcrições de citações mais importantes

“O Drama, uma forma essencial de comportamento em todas as culturas, permite explorar questões e problemas centrais à condição humana, e oferece ao indivíduo a oportunidade de definir e clarificar sua própria cultura. É uma atividade criativa em grupo, na qual os participantes se comportam como se estivessem em outra situação ou lugar, sendo eles próprios ou outras pessoas.” (p.11, l.1, grifo da autora)

“É comum o uso de convenções e técnicas teatrais no ensino de primeiro e segundo graus, usualmente como elementos facilitadores da aquisição e fixação de conhecimentos. Entretanto, seu uso em si, distanciado de um contexto dramático, não vai além de possibilitar uma estratégia dinâmica de conhecimentos. O potencial estético do teatro na educação, de conhecer e sentir (envolvimento emocional) perde-se ao se separar as técnicas teatrais do contexto dramático. (p.11, l.20, grifo da autora)

“O drama como método de ensino, eixo curricular e/ou tema gerador constitui-se atualmente numa subárea do fazer teatral e está baseado num processo contínuo de exploração de formas e conteúdos relacionados com um determinado foco de investigação (selecionado pelo professor ou negociado entre professor e aluno). Como processo, o drama articula uma série de episódios, os quais são construídos e definidos com base em convenções teatrais criadas para possibilitar seu sequenciamento e aprofundamento.” (p.12, l.4)

“Algumas características básicas são associadas ao drama como atividade de ensino: contexto e circunstâncias de ficção, que tenham alguma ressonância com o contexto real ou com interesses específicos dos participantes; o processo em desenvolvimento através de episódios, um pré-texto que delimite e potencialize a construção da narrativa teatral em grupo; e a mediação de um professor-personagem, que permite focalizar a situação sob perspectivas e obstáculos diversos. entre as estratégias que articulam essas características, algumas são fundamentais: as convenções teatrais que identificam formas distintas de ação dramática, a quantidade e a qualidade do material oferecido aos participantes, a delimitação e ambientação cênica.” (p.12, l. 12, grifo da autora)

“O contexto da ficção permite focalizar ou desafiar aquilo que é normalmente aceito sem questionamentos, tudo o que devido à rotina é assumido sem maiores reflexões. Ao mesmo tempo facilita a abordagem de temas ou situações que possam abalar a suscetibilidade dos participantes, possibilitando a experiência de respostas ou atitudes reais como se estas fizessem parte do universo imaginário.” (p.12, l.29, grifo da autora)

“Entretanto, para que o contexto estabelecido para uma determinada experiência permita este cruzamento do real com o imaginário, e para que as crianças consigam interagir como participantes destas duas realidades simultaneamente (a do contexto real e a do contexto imaginário), é necessário que a situação ou circunstâncias exploradas sejam convincentes, tanto no tratamento do tema/assunto, quanto na ambientação e papéis selecionados.
Contexto e circunstâncias são convincentes, primeiramente pela sua coerência interna, e esta em grande parte dependerá do acesso a informações e material de pesquisa disponível ao grupo. Falta de coerência decorre em grande parte da ausência de informações sobre o assunto, o que acarreta improvisações desencontradas e/ou simplistas, sem objetivo relacionado com o contexto ou fatos investigados.
Em segundo lugar, a situação dramática pode tornar-se convincente pela interação entre o contexto da ficção, o contexto social e o contexto da ambientação cênica. As possíveis analogias ou aproximações entre esses três contextos serão a medida do engajamento emocional dos participantes com o desenvolvimento do processo dramático.” (p. 13, l. 4)

“O pré-texto é o roteiro, história ou texto que fornecerá o ponto de partida para iniciar o processo dramático, e que irá funcionar como pano de fundo para orientar a seleção e identificação das atividades e situações exploradas cenicamente.” (p.15, l.15, grifo da autora)

“O pré-texto é, assim, não apenas um estímulo; sua função é bem mais ampla. Enquanto o estímulo sugere a idéia ou a ação inicial, o pré-texto indica não apenas o que existe anteriormente ao texto (contexto e circunstâncias anteriores), mas também subsidia a investigação posterior, uma vez que introduz elementos para identificar a natureza e os limites do contexto dramático e do papel dos participantes.” (p.16, l.17, grifo meu)

“A constatação fundamental aqui é que as dimensões artística e educacional alimentam uma à outra – o desempenho artístico será tanto melhor quanto maior for o conhecimento adquirido sobre os conteúdos e as formas subjacentes ao processo dramático; o valor educacional da experiência na escola será tanto maior quanto melhor for o resultado artístico alcançado.” (p.17, l. 20)

“Caracterizado também como “um processo de investigação”, o impacto que o drama terá sobre o grupo vai corresponder ao material usado para envolver os participantes com o processo: o pré-texto, e o material introduzido de forma gradual pelo professor, tal como pistas, documentos, fotografias, objetos, etc. Tanto o pré-texto quanto o material de manutenção do processo permanecem estreitamente vinculados ao papel do professor, como personagem ou não.”. (p.23, l.17)

“Ambientação cênica e teatralidade referem-se à possibilidade de levar os participantes a participar de uma realidade virtual; de se envolver na fantasia despertada pelo contexto da ficção intensificado pela participação ativa num evento teatral. A experiência de ser parte de uma realidade simulada já é prazerosa em si, independentemente de seu conteúdo (...)”. (p.30, l.26)

“A construção do conhecimento em grupo, mediante a concomitante aquisição da linguagem, ambos decorrentes das situações criadas e mediadas pelo professor, fica evidente a cada etapa do processo. Neste, o sucesso ou fracasso do drama como método de ensino ou de aprendizagem reflete a habilidade do professor para coordenar as interações dos alunos em diferentes níveis a fim de equilibrar fazer e apreciar e de introduzir situações, informações e/ou desafios na hora certa de acordo com os diferentes papéis e ações.” (p.31, l.20)

“A singularidade do drama como processo é que é possível considera-lo tanto como método de ensino, permitindo abordar e desenvolver qualquer tema ou situação dentro ou fora do currículo; quanto como eixo curricular, podendo ser caracterizado como uma atividade independente das demais disciplinas, mas capaz de gerar interesse ou pontos de ligação com qualquer outra das áreas curriculares.” (p.32, l.4, grifo da autora)

“(...) o aluno ao investigar as respostas o fará de acordo com suas necessidades e interesse, caracterizando-se assim como produtor dos conhecimentos adquiridos em vez de mero reprodutor do que lhe é passado pelo professor.” (p.34, l.1)

“Um recurso pedagógico eficaz para envolver os participantes com o contexto dramático e, ao mesmo tempo, estimular investigações paralelas e independentes nas demais áreas curriculares é o pacote de estímulo composto.” (p.36, l.11, grifo da autora)

‘O estímulo composto reúne um conjunto de artefatos – objetos, fotografias, cartas e documentos, por exemplo, em uma embalagem apropriada. A história que se desenvolve a partir dele ganha significância através do cruzamento de seu conteúdo – o relacionamento entre os artefatos nele contidos – e como os detalhes de cada um sugerem ações e motivações humanas.” (p.36, l.14)

“A teoria do estímulo composto foi desenvolvida por John Somers (1994), e parte do princípio de que o impacto do drama está baseado na possibilidade de trabalhar em dois níveis que estão interconectados e afetam um ao outro – o do contexto social dos participantes e o do contexto simbólico promovido pela linguagem do drama. Por exemplo, uma ferramenta pode sugerir um tipo de trabalho e o trabalhador que o executa; uma carta indica o motivo pelo qual foi escrita e o relacionamento entre o remetente e o destinatário.” (p.36, l.20)

“Os artefatos contidos no pacote de estímulo (o qual pode ser uma valise, um envelope grande, uma caixa, uma trouxa, etc.) funcionam como uma alavanca para iniciar e impulsionar o processo dramático, e vão tornando-se menos importantes à medida que a imaginação do grupo se fortalece. No decorrer do processo dramático poderão funcionar como uma referência contínua aos fatos que lhe deram origem.” (p.37, l.3)

“A cada processo desenvolvido sobre o mesmo tópico ou texto dramático, o professor poderá optar por ampliar o número de trabalhos relacionados com o contexto (construção de mapas ou ambientações, murais, imagens congeladas, fotos animadas, esculturas, reportagens, etc.); com a identificação de funções ou papéis (berlinda, entrevistas, um dia na vida..., problema oculto, máscaras, etc.), ou com o desenvolvimento da narrativa dramática, enfrentamento de tensões e solução de conflitos (jogos de status, fórum, analogias, rituais, momento da verdade, etc.). Todas essas atividades, presentes em metodologias distintas como os Jogos Teatrais, de Viola Spolin, e o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, sob a forma de jogos ou improvisações, fazem parte também do Drama. O que as identifica aqui é a fundamental importância que adquire sua coerência interna com o pré-texto – as intenções e motivações que deram origem ao processo do drama, e a construção de uma narrativa orquestrada pelo professor dramaturgista(...).” (p.43, l.9, grifo da autora)

“Em ambas a situações, leitura e construção de imagens, a intervenção do professor e monitores está centrada naquele espaço que Vigotski convencionou chamar “zona do desenvolvimento proximal”, caracterizada pela distância entre a capacidade individual da criança e sua capacidade de intervir com ajuda ou colaboração de outros mais capazes.
Na prática isso significa que o professor não vai definir os papéis ou ações dos participantes; sua função será “ler” as atitudes e ações dos participantes e fazer perguntas que os leve a pensar adiante.” (p.51, l.23)

“Práticas pós-modernas também estão refletidas no drama: fragmentação e redistribuição de papéis, abordagem não linear e descontínua, retomada de temas e textos clássicos, diluição da distinção entre atores e espectadores, mudanças de perspectiva – investigação do tema de pontos de vista distintos.” (p.115, l.4)

“O material introduzido no correr destes processos dependeu do questionamento e interesse do grupo e das tarefas estabelecidas pelo professor em função das necessidades cênicas e de aprendizagem.” (p.117, l.17)

“O drama, neste sentido, é um método de ensino cujos aspectos estruturais e estratégias garantem ao professor o exercício de ouvir o aluno e abrir oportunidades para que ele investigue as situações dramáticas a partir de seu capital cultural (...). O professor propõe as tarefas que irão definir o próximo episódio do processo dramático com base no material que veio à tona do episódio anterior. Ele pode, e deve, desafiar as posturas assumidas pelo aluno, mas fará isso ao criar problemas para serem solucionados por meio de diálogos ou ações físicas.” (p.118, l.30, grifo da autora)

Comentário pessoal

Drama = como se + processo contínuo + investigação.
O professor é de fundamental importância no processo, não para tomar decisões, mas para sutilmente conduzir o processo para o resultado esperado através da introdução de material.
O Drama imerge os alunos numa realidade imaginada fazendo-os viver aquilo que está sendo criado concomitantemente com o processo de criação.
A característica investigativa do processo é altamente eficaz para manter o interesse e estimular a pesquisa acerca de temas desejados. Por isso, o drama se configura como excelente ferramenta para trabalhos inter e transdisciplinares.
O Drama como método já traz em si o cerne da avaliação formativa (ou processual). A cada encontro percebe-se o estágio em que os alunos se encontram em relação ao conhecimento acerca dos temas pretendidos e verifica-se formas de introduzir novos conhecimentos, estimular o aprofundamento ou fortalecer pontos que estão insuficientemente trabalhados.

Utilização de materialidades no processo criativo

Cartas, documentos, fotos, textos, objetos, professor-personagem, cenas, pacote de estímulo composto, espaço.