A cena da Novos Novos, percursos de um teatro com crianças e adolescentes


FICHA DE LEITURA

Referências
bibliográficas

LANDIM, Débora. A cena da Novos Novos, percursos de um teatro com crianças e adolescentes. Salvador: P55Edições, 2012.

Breve resumo

A autora descreve a trajetória da Cia. de Teatro Novos Novos, desde o seu surgimento até hoje, passando pela descrição de seus processos de montagem (com destaque para dois deles: Alices e Camaleões e Ciranda do Medo) e salientando a importância da musica nessas construções.

Durante todo o seu percurso como diretora da companhia, Débora tem buscado fazer um teatro com e para crianças, enfatizando a necessidade de falar de um mundo próprio e em linguagem própria ao público a que os espetáculos se dirigem sempre prezando pela qualidade artística dos resultados.


Transcrições de citações mais importantes


“Tornava-se necessário, percebia, entregar-se à imaginação do outro, à imaginação daquelas crianças, (re)criando um mundo, propondo uma realidade artisticamente modificada.” (p.14, l.29)

“[...] eu vislumbrava um percurso que agregasse tempo ao fazer teatro com crianças, que juntasse o aprendiz com o ser ator, transformando-o em ator-aprendiz, sem perder a característica primordial desse público, o ser criança.” (p.17, l.12)

“À frente da Companhia Novos Novos, no papel de coordenadora, ansiava por desenvolver um trabalho em equipe que se aproximasse do olhar infantojuvenil que é lançado ao mundo; e no papel de encenadora buscava investigar uma dramaturgia que se diferenciasse das experimentações escolares, de um teatro educativo ligado especificamente à função didático-pedagógica. Arquitetava fórmulas de fugir dos textos ditos para crianças, geralmente marcados por uma mentalidade adulta moralizante.” (p.51, l.24)

“Rico, pobre, morador de um rico país da Europa, de um rincão da África ou de qualquer bairro periférico soteropolitano, o jovem vê o mundo se desenhar à sua frente de maneiras diversas; mas há algo nessa experiência que une crianças e adolescentes, que é, exatamente o fato de serem crianças e adolescentes.” (p.74, l.12)

“Propondo-se a fazer teatro com elenco de crianças, adolescentes e jovens, a Companhia Novos Novos busca uma mudança de ênfase em seu trabalho, deixando para trás qualquer aspecto exibicionista que possa existir na atividade artística e dando direcionamento às possibilidades de formação humana propiciadas pelo trabalho nessa área.” (p.77, l.14)

“[..] a questão da educação, no teatro feito para crianças, não deve ser confundida com domesticação ou condicionamento, mas entendida como uma forma de potencializar os atributos cognitivos emocionais e sociais desse público.” (p.82, l.28)

“Inevitável que os pais dos integrantes da Novos Novos se envolvam com todo o processo. Eles também passam por experiências e transformações, além de serem naturalmente levados a indagações, muitas delas de cunho existencialista mesmo.” (p.89, l.23)

“O adulto costuma tecer suas impressões sobre um determinado espetáculo construindo opiniões alicerçadas na racionalidade; a criança encontra na emoção a sua forma mais direta de se relacionar com essa experiência estética. São diferenças de percepção que, acredito, também devem ser levadas para o processo de construção da peça, valorizando-se o jeito da criança e do adolescente, seus momentos de estar e perceber o mundo, como norteadores do processo criativo.” P.95, l.9)

“Uma vez montado o espetáculo, ele fica em cartaz durante alguns meses, com objetivos artísticos e pedagógicos. Na companhia, acredita-se que o dia a dia de uma temporada proporcione o aprimoramento do ator, o amadurecimento do personagem e do espetáculo diante dos olhos do(s) público(s), complementando, assim, o processo criativo. Essa experiência incentiva, também, a convivência diária com o ofício do ator e os cuidados que ele exige.” (p.100, l.8)

“Desde o primeiro instante, a companhia optou por uma linha, tanto na dramaturgia utilizada quanto na encenação, que privilegia o trabalho a partir de um texto inédito. Assim podem ser contemplados temas que precisem ser discutidos naquele momento, questões pertinentes ao universo infantojuvenil, dando espaço a questionamentos, dúvidas, posicionamentos em relação ao mundo no qual a criança e o jovem estão inseridos.
Essa proposta gerou nosso primeiro espetáculo: Imagina só... Aventura do fazer, que foi realizado a partir de várias leituras. O argumento da história já traz relação com a peça Seis personagens à procura de um autor (1930), [...]. Desse mote, abre-se um universo no qual cabem fragmentos de crônicas de Carlos Drumond de Andrade (1902-1987), poemas de Hélder Pinheiro, idéias nascidas a partir da leitura de tiras de jornais, como Calvin&Haroldo [...] e Mafalda[...]. Toda essa informação foi acrescida de discussões a respeito de temas desenvolvidos em ensaios teóricos da educadora Fanny Abramovich e também de outros pesquisadores que realizam estudos a respeito da construção da cultura infantil [...].
Esse material teórico foi seguidamente revisado, discutido, pensado e modificado durante a construção do texto. O que era considerado interessante de cada tema era apresentado ao elenco, que improvisava durante horas, sob a orientação da encenadora.” (p.101, l.25)

“O texto não é um produto acabado no qual é proibido tocar. Ele é, portanto, criado a partir de um conjunto de regras estabelecidas entre autor, encenador, atores-aprendizes e artistas-colaboradores. Dessa maneira, trata-se a concepção do texto dramático não como uma “obra”, mas como aquilo que os anglo-saxões chamam de work in progress, um trabalho aberto, transformável.” (p.123, l.1)

“No decorrer das improvisações das cenas, alguns atores-aprendizes sinalizaram que a história precisava ser (re)formatada pela Companhia Novos Novos para que o espetáculo trouxesse as características do grupo. Se no texto original a história girava em torno do personagem Medo, nas improvisações o Dono do Medo era quem dominava a cena. Nas práticas anteriores já se tinha descoberto que uma montagem com crianças só funciona quando elas possuem propriedade de todo o contexto. Então, como encenadora, e depois com o aceite da autora do texto, resolvi criar algumas novas cenas e inverter a ordem do texto, dando destaque ao Dono do Medo.” (p.135, l.19)

“Cada processo foi adequado às características de cada elenco e equipe de artistas. Alguns foram mais colaborativos, outros menos, um processo com mais de um dramaturgo, outros com apenas um, todos com a participação efetiva do elenco e dos artistas-colaboradores. É inegável o aprendizado: na criação de um espetáculo, todos os envolvidos têm sua parcela de responsabilidade e de autoria.” (p.145, l.6)

“No processo criativo de um novo texto, a musicalidade funciona como importante suporte ao seu desenvolvimento dramático. O processo da construção das letras das canções também é de troca; evita-se o uso de letras simplistas, maniqueístas, procurando-se fugir de resultados que acabem por diluir conteúdos significativos e importantes do texto.” (p.146, l.9)

“Na construção cênica de um espetáculo da Novos Novos a musicalidade busca atingir diferentes efeitos. Tendo ela como recurso, pode-se obter um espaço que não se defina apenas pelos elementos visuais, mas também por um conjunto de sonoridades, características ou sugestivas, que tecem ambientes para elenco e espectador.” (p.149, l.16)

“É fato que a visão de mundo do adulto sobre a sociedade contemporânea interfere no processo de produção cultural destinada à criança, em especial, e ao adolescente. Não deveria ser tanto assim, pois dentro dessa discussão é imprescindível que se leve em conta os conflitos, medos, anseios, desejos e opiniões também das crianças e dos adolescentes. Desconsiderando opiniões e experiências das crianças e dos adolescentes, o adulto exerce o poder, sonegando ou distribuindo os bens e produtos culturais, decidindo os critérios para se determinar qualidade e valor dessa produção. O que o meu trabalho e a Companhia Novos Novos propõem é que crianças e adolescentes sejam inseridos nesse processo de construção de conteúdo, amparados e conduzidos por adultos, mas com espaço para opinar, criar, participar de escolhas e decisões.” (p.154, l.13)

“Sem um mapa, um caminho pronto, sem uma receita, a Companhia Novos Novos delineia uma dimensão para a sua criação cênica, consciente e crítica, reafirmando a importância do sonho e da imaginação criativa como combustíveis do movimento da vida, ressignificando-a e humanizando-a.” (p.157, l.26)

Comentário pessoal


O trabalho da companhia é marcado pelo espaço para o diálogo e pela criação coletiva. Em geral, o processo criativo de um espetáculo tem origem  nas discussões do grupo, de onde surgem os temas que se deseja trabalhar. A encenadora, então, propõe diversos textos a serem lidos pelo grupo e a partir dos quais será desenvolvido um longo processo de improvisação que, por sua vez, dará origem ao texto final do espetáculo.

Apenas no caso de Ciranda do Medo, partiram de um texto já pronto, o livro de mesmo nome da autora Sonia Robatto. Contudo, com o desenvolver do trabalho, verificou-se a necessidade de realizar adaptações no texto para que se adequasse melhor aos anseios do grupo, o que foi feito pelo dramaturgo em parceria com a autora, também com base nas propostas surgidas nas improvisações do elenco.

Na Cia., a música é executada pelo próprio elenco e usada principalmente para criação de atmosfera cênica.

Utilização de materialidades no processo criativo

 Textos, jornais, filme, musica.

                                                                                                                                

por Érica Lopes
jan/13