Referências
bibliográficas
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FÉRAL, Josette. Por uma poética da
performatividade: o teatro performativo, Sala Preta, São Paulo,
v.8, n.1, 2008. Disponível em: http://www.revistasalapreta.com.br/index.php/salapreta/article/view/260.
Acesso em: 15 de abril de 2013.
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Breve resumo
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Féral discorre as características do teatro
produzido atualmente, utilizando para isso alguns exemplos de espetáculos, e
propõe o conceito teatro performativo.
Isso porque, segundo o autor, esse teatro é
marcado por características da performance, além de não significar a morte do
drama, como daria a entender a denominação teatro pós-dramático proposta por
Hans Thies-Lehman.
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Transcrições de citações mais importantes
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“Gostaria de lembrar aqui que
seria mais justo chamar este teatro de ‘performativo’, pois a noção de
performatividade está no centro de seu funcionamento.”
“[...] se há uma arte que se
beneficiou das aquisições da performance, é certamente o teatro, dado que ele
adotou alguns dos elementos fundadores que abalaram o gênero (transformação
do ator em performer, descrição dos acontecimentos da ação cênica em detrimento
da representação ou de um jogo de ilusão, espetáculo centrado na imagem e na
ação e não mais sobre o texto, apelo à uma receptividade do espectador de
natureza essencialmente especular ou aos modos das percepções próprias da
tecnologia...). Todos esses elementos, que inscrevem uma performatividade
cênica, hoje tornada freqüente na maior parte das cenas teatrais do ocidente [...],
constituem as características daquilo a que gostaria de chamar de “teatro
performativo.”
“A expansão da noção de performance
sublinha portanto (ou quer sublinhar) o fim de um certo teatro, do teatro
dramático particularmente e, com ele, o fim do próprio conceito de teatro tal
como praticado há algumas décadas. Mas esse teatro está realmente morto,
apesar de todas as declarações que afirmam seu fim?”
“O interesse da evocação
desses dois eixos (performance como arte e performance como experiência e
competência) vem do fato de que emerge, no cruzamento deles, uma grande parte
do teatro atual, um teatro cuja diversidade das características atuais
Hans-Thies Lehmann analisou com precisão e que ele definiu como pós-dramáticas,
mas para o qual eu gostaria de propor a denominação “teatro performativo”, que
me parece mais exata e mais de acordo com as questões atuais.”
“O ator aparece aí, antes de
tudo, como um performer. Seu corpo, seu jogo, suas competências técnicas são
colocadas na frente. O espectador entra e sai da narrativa, navegando segundo
as imagens oferecidas ao seu olhar. O sentido aí não é redutivo. A narrativa
incita a uma viagem no imaginário que o canto e a dança amplificam. Os
arabescos do ator, a elasticidade de seu corpo, a sinuosidade das formas que
solicitam o olhar do espectador em primeiro plano, estão no domínio do
desempenho. O espectador, longe de buscar um sentido para a imagem, deixa-se
levar por esta performatividade em ação. Ele performa.”
“De fato, no cerne da noção
de performance reside uma segunda consideração, a de que as obras
performativas não são verdadeiras, nem falsas. Elas simplesmente sobrevêm.”
“[...] duas fortes idéias
estão no centro da obra performativa: De um lado, seu caráter de descrição dos
fatos. Por outro, as ações que o performer ali realiza. A performance toma
lugar no real e enfoca essa mesma realidade na qual se inscreve desconstruindo-a,
jogando com os códigos e as capacidades do espectador [...].”
“O performer instala a
ambigüidade de significações, o deslocamento dos códigos, os deslizes de
sentido. Trata-se, portanto, de desconstruir a realidade, os signos, os
sentidos e a linguagem.”
“Mais que o teatro dramático,
e como a arte da performance, é o processo, ainda mais que produto, que o
teatro performativo coloca em cena[...].”
“Existe, apesar de tudo, uma
linha fraturando duas visões do teatro: uma que rompeu com a tradição e se
inspira na performance e outra que mantém uma visão mais clássica da cena
teatral. A primeira é mais livre e inventa os parâmetros que permitem
pensá-la, a segunda permanece em certa medida tributária do texto e da fala, mesmo
que esse último não seja mais, necessariamente, o seu motor.”
“No teatro performativo, o
ator é chamado a “fazer” (doing), a “estar presente”, a assumir os riscos e a
mostrar o fazer (showing the doing), em outras palavras, a afirmar a
performatividade do processo. A atenção do espectador se coloca na execução
do gesto, na criação da forma, na dissolução dos signos e em sua reconstrução
permanente. Uma estética da presença se instaura (se met en place).”
“Nesta forma artística, que
dá lugar à performance em seu sentido antropológico, o teatro aspira a
produzir evento, acontecimento, reencontrando
o presente, mesmo que esse caráter de descrição das ações não possa ser
atingido. A peça não existe senão por sua lógica interna que lhe dá sentido,
liberando-a, com freqüência, de toda dependência, exterior a uma mímesis
precisa, a uma ficção narrativa construída de maneira linear. O teatro se
distanciou da representação.”
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Comentário pessoal
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O autor reafirma as
características do teatro atual descritas por Lehman no livro “O Teatro
pós-dramático”, propondo uma nova denominação para esse fazer teatral – teatro
performativo – por acreditar que seria uma designação mais adequada uma vez
que esse teatro carrega em si características essenciais da performance.
Essa discussão acerca de
nomenclaturas e conceituações, apesar de sua relevância para a construção de
um mesmo sistema simbólico que permita uma melhor compreensão das produções
acerca do tema, são menos importantes que a percepção de uma nova forma
teatral que vem se impondo à cena contemporânea – apesar dos escritos
destacarem a cena europeia e norte-americana, sabemos empiricamente que
também é evidenciada na américa-latina.
Essa nova cena é fortemente
marcada por um movimento de ruptura com padrões rígidos da arte teatral e
fortemente influenciada pela performance e intervenções urbanas, bem como por
outras linguagens artísticas e pela tecnologia.
Cumpre ressaltar, no entanto,
que o surgimento de novas possibilidades não aniquila o que historicamente
foi construído e que o drama, assim como outras formas teatrais, ainda são
encontradas e passíveis de repetição ou releituras de acordo com as
propostas, influências e intenções dos artistas envolvidos.
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Utilização de materialidades no processo criativo
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por Érica Lopes
abr/13